na espinha do dragão

segunda-feira, setembro 24, 2007

Um


Durante um único instante
oitenta mil portas são criadas;
durante um único instante,
o tempo eterno é concluído.

(Yoka Daishi, Shodoka)

|| Koun, 8:53 AM || (0) comments |

sexta-feira, setembro 21, 2007

A comunhão das formas

|| Koun, 5:50 PM || (0) comments |

quinta-feira, setembro 06, 2007

Lição

Para se ir à escola, há dois caminhos. Um pela avenida, outro pelo bairro. Isso não é estranho, pois andar de bicicleta em São Paulo envolve sempre escolher entre essas opções.

O caminho pelo bairro atravessa o Boaçava, que é nome de antiga fortificação na confluência dos dois rios. Passa-se por ruas desertas, fartamente arborizadas, e por praças aprazíveis, principalmente a da sociedade amigos do bairro. Nesta, há figueiras e paineiras, árvores menores e um amplo gramado, em uma das extremidades, bastante apropriado para a contemplação. É um bom percurso para se colecionar belos jardins e uma grande paineira, no lado baixo da praça, justifica a escolha. No final da travessia, não há como escapar: acaba-se numa medonha avenida, ocupada por todo tipo de veículo, agressiva e suja. Mas basta cruzá-la para entrar novamente em outro bairro, este já na várzea do rio.

Atentamente se cruza uma quantidade de caminhões, estacionados ou circulando em baixa velocidade pelas ruas estreitas. Os motoristas olham do alto das cabines a esguia bicicleta. Em ambas as calçadas se vêem caixas de madeira empilhadas. Há muitos catadores com seus cães. Se é perto do meio dia, o cheiro de comida vindo dos pequenos botecos invade a rua. Há um clima agitado e ao seu modo alegre. Assim, chega-se à escola.

O caminho pela avenida consiste em tomá-la bem em cima, onde começa o cemitério. Quando o sinal abre, zum na ladeira. Vão-se driblando os buracos na pista e só de canto do olho no Ceasa que vem despencando atrás. O outro olho no ponto do ônibus, que, se alguém der sinal, já era até o farol. Já quase no final, vira-se à direita e se está novamente na caixaria, até a escola.

Esse segundo caminho é impróprio: feio, sujo, arriscado e rápido. No entanto, há um pormenor: a ladeira corre ao longo do muro do cemitério da Lapa. Lá dentro há paineiras, quaresmeiras e ipês em boa quantidade e também ambiente adequado para a contemplação. O muro que o separa da calçada da avenida é grosso e, na verdade, formado por inúmeros nichos, onde se guardam urnas. Pode-se parar no meio da descida e entrar pelo portão secundário.

Ensina-se que é preciso se manter atento à circularidade do caminho.


|| Koun, 7:57 PM || (0) comments |