
“Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
‘Uma visita’, eu me disse, ‘está batendo a meus umbrais.
É só isto, e nada mais’.”
(Poe, O corvo)
Falta ar. Aqui tudo é grande, mas é difícil se mexer.
Mal se vê o horizonte. Tem que saber se posicionar.
Há horas em que ele é vermelho, o horizonte poluído.
Horizonte puído, se você quiser.
Vez ou outra lhe pegam desavisado e um dito reverbera:
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Mas no mais das vezes é sempre um fluxo de silêncio.
Uma estranha sensação de estar por demais no ventre
da máquina. O fluxo silencioso das máquinas: zunindo,
guinchando, fazendo falar a resistência do ar.
A cidade forrada de carros. Os carros também vermelhos
no fim do dia, acendendo e apagando suas luzes de
freio. Parados, eles ofegam. Inspirando e expirando,
só eles, só eles respiram.
(Bruno Zeni, O fluxo silencioso das máquinas)
Lapa, Água Branca, Barra Funda, Santa Cecília, São João, Teatro Municipal, Páteo do Colégio.
No mapa do coração:
de João Antonio a Anchieta, via Mário de Andrade, Vanzolini e Villa-Lobos.
A bicicleta alinhava nomes e lugares.
Na tarde de domingo, cidade e gente se entretecem.