na espinha do dragão

quinta-feira, novembro 30, 2006

Lapeanas

Seu Raimundo recicla. Todo dia sai pelo bairro, recolhendo. Em vez de arrastar uma pesada carroça, ajeitou uma caixa de plástico no bagageiro da bicicleta e, dia todo, formiguinha, vai e volta com suas pequenas cargas. Entra em casa, descarrega e torna a sair. Não vai longe: pode-se vê-lo na Dronsfield, na Gago Coutinho, perto da 12, na Albion. Quando junta o suficiente, leva no depósito ali do lado do quartel, passando o buraco do trem. Pedala devagar, ritmado e constante, sem pressa. Usa chapéu, bigode e sorriso.
Na hora do almoço, vai subindo a Mercedes com o filho na garupa, no caminho da escola.
No fim da tarde, vem descendo, bicicleta carregada de papelão.
No domingo passa com a mulher e o menino, no caminho da igreja. Neste dia, vai a pé, que é dia do Senhor.
Seu Raimundo não desperdiça.
|| Koun, 11:06 PM || (0) comments |

Unidade

140 vezes por minuto
batem os corações
nem meu, nem seu
pedalando na subida
ou na barriga da mamãe
nem dentro, nem fora
|| Koun, 11:02 PM || (1) comments |

segunda-feira, novembro 13, 2006

Estação Domingos de Moraes


A tarde se deitava nos meus olhos
E a fuga da hora me entregava abril,
Um sabor familiar de até-logo criava
Um ar, e, não sei porque, te percebi.


Voltei-me em flor. Mas era apenas tua lembrança.
Estavas longe doce amiga e só vi no perfil da cidade

O arcanjo forte do arranha-céu cor de rosa,
Mexendo asas azuis dentro da tarde.


Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus amigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.


Meus pés enterrem na rua Aurora,
No Paissandu deixem meu sexo,

Na Lopes Chaves a cabeça
Esqueçam.


No Pátio do Colégio afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.


Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia
Sereia.


O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga
Para cantar a liberdade.
Saudade...


Os olhos lá no Jaraguá
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...


As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.

Adeus.


(Poemas da Amiga, Mário de Andrade)


|| Koun, 2:21 PM || (0) comments |

sexta-feira, novembro 03, 2006

Afinidades eletivas II




|| Koun, 3:35 PM || (1) comments |

quarta-feira, novembro 01, 2006

Afinidades eletivas

|| Koun, 3:09 PM || (0) comments |