na espinha do dragão

segunda-feira, maio 21, 2007

Nanquim

tarde de outono
no quintal os gatos dormem
junto com as plantas

***

céu de abril
os olhos doem de tanta
saudade

***

arrepio na espinha
sem dar aviso
maio chegou

***

domingo de manhã
o bêbado e o monge
tremem na praça

***

em noite de outono
passa zumbindo o ciclista
cachorrada nem liga

***

manhã colorida
qual flor faz soar
os sinos da igreja?
|| Koun, 9:27 AM || (0) comments |

domingo, maio 06, 2007

Oito budas

O homem sobe e desce a ladeira íngreme, sob o sol. Na ida, uma mulher bêbada é colocada dentro do camburão por dois polícias. Na volta, uma velha deixa a sombrinha cair no asfalto.

O ciclista vira na contramão e segue rente aos carros. Quando passa pelo bar da esquina vê três homens carregando uma máquina de caça-níqueis embrulhada em sacos de lixo preto.

O professor de letras arrasta o pé, em passo lento, rumo ao ponto de ônibus. Leva uma sacola com várias pastas cheias de papel. Enquanto observa o avião passar sobre os prédios, seu estômago dói.

O bobo do bairro passa a madrugada olhando as luzes da antena piscando sobre o pano preto do céu de outono. Elas brilham alternadamente, formando a constelação de Diadorim.

O menino dá um beijo na menina da rua de cima. Na tarde de quinta-feira, matou a aula de piano. Volta pra casa e mente sobre a lição.

O sacerdote, vestido de preto, sua em silêncio enquanto ouve as aflições dos homens. Um coração sem limites, como diriam os amigos.

O ex-escritor, no quarto vazio, treina a arte da não-forma.

O prisioneiro observa o domingo terminar.

|| Koun, 10:56 PM || (1) comments |