Seu Raimundo recicla. Todo dia sai pelo bairro, recolhendo. Em vez de arrastar uma pesada carroça, ajeitou uma caixa de plástico no bagageiro da bicicleta e, dia todo, formiguinha, vai e volta com suas pequenas cargas. Entra em casa, descarrega e torna a sair. Não vai longe: pode-se vê-lo na Dronsfield, na Gago Coutinho, perto da 12, na Albion. Quando junta o suficiente, leva no depósito ali do lado do quartel, passando o buraco do trem. Pedala devagar, ritmado e constante, sem pressa. Usa chapéu, bigode e sorriso.
Na hora do almoço, vai subindo a Mercedes com o filho na garupa, no caminho da escola.
No fim da tarde, vem descendo, bicicleta carregada de papelão.
No domingo passa com a mulher e o menino, no caminho da igreja. Neste dia, vai a pé, que é dia do Senhor.
Seu Raimundo não desperdiça.