na espinha do dragão

domingo, maio 06, 2007

Oito budas

O homem sobe e desce a ladeira íngreme, sob o sol. Na ida, uma mulher bêbada é colocada dentro do camburão por dois polícias. Na volta, uma velha deixa a sombrinha cair no asfalto.

O ciclista vira na contramão e segue rente aos carros. Quando passa pelo bar da esquina vê três homens carregando uma máquina de caça-níqueis embrulhada em sacos de lixo preto.

O professor de letras arrasta o pé, em passo lento, rumo ao ponto de ônibus. Leva uma sacola com várias pastas cheias de papel. Enquanto observa o avião passar sobre os prédios, seu estômago dói.

O bobo do bairro passa a madrugada olhando as luzes da antena piscando sobre o pano preto do céu de outono. Elas brilham alternadamente, formando a constelação de Diadorim.

O menino dá um beijo na menina da rua de cima. Na tarde de quinta-feira, matou a aula de piano. Volta pra casa e mente sobre a lição.

O sacerdote, vestido de preto, sua em silêncio enquanto ouve as aflições dos homens. Um coração sem limites, como diriam os amigos.

O ex-escritor, no quarto vazio, treina a arte da não-forma.

O prisioneiro observa o domingo terminar.

|| Koun, 10:56 PM

1 Comments:

Adorei o texto.
8 também é o símbolo do infinito.
Infinitos Budas.
Infinitos Joões.
Infinitas Marias.
Oito abraços, um pra cada João.
B.
Anonymous Anônimo, at 6:28 PM  

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